Ensinando Economia, Nível de atividade, Política Monetária

Macroeconomia das Curvas que Pulam

 

O banco central faz política monetária restritiva, a curva LM pula para a esquerda e para cima, a taxa de juros de equilíbrio sobe e a renda de equilíbrio cai.

Foi assim que você aprendeu macroeconomia (ou economia, em geral)? Eu sinto informá-lo, mas, parafraseando um velho amigo dos tempos de mestrado, “ou você enganou o sistema ou sistema enganou você”… Nesse caso, suponho que esteja mais para “o sistema enganou você”, infelizmente…

O instrumental matemático, algébrico ou gráfico, é apenas uma linguagem para expressar a lógica econômica, ou o modelo econômico, utilizado para descrever e compreender os fenômenos, é um meio, não um fim em sim mesmo. As curvas e os seus deslocamentos nos gráficos,  “as curvas que pulam”,  representam de maneira simplificada as decisões dos agentes econômicos frente à mudança em algum aspecto do seu conjunto de informações (um experimento de estática comparativa típico) e o resultado da interação entre os agentes a partir daí, e é isso que é importante compreender.

No caso do exemplo acima, o banco central pode realizar a política restritiva alterando um dos seus instrumentos de política monetária, por exemplo, vendendo, por meio dos seus dealers (instituições financeiras autorizadas a agir em nome do banco central), títulos públicos de curto prazo no mercado secundário (um mercado eletrônico, denominado Sistema Especial de Liquidação e Custódia – Selic, no caso brasileiro). Ao vender títulos, o banco central causa um desequilíbrio nesse mercado, do tipo excesso de oferta de títulos, e paralelamente de excesso de demanda por moeda (coloca títulos em circulação e retira moeda de circulação – diminui a oferta de moeda), os preços dos títulos começam a cair, e, simultaneamente, suas taxas de retorno se elevam. Com taxas de juros mais elevadas e mesmos níveis de renda, o equilíbrio monetário (ou financeiro, como queiram) é restabelecido, já que os agentes demandarão menos moeda frente à elevação no seu custo de oportunidade, a taxa de juros. Este movimento de realocação de portfólio dos agentes frente à política monetária é representado graficamente por um deslocamento para esquerda e para cima da curva LM (Liquidity equal Money, a curva que representa o equilíbrio financeiro). Na sequência do raciocínio lógico, observarmos a interação entre o lado financeiro e o lado real da economia, o mercado de bens e serviços, cujo equilíbrio é representado pela igualdade entre investimento e poupança, a curva IS (Investment equal Saving). Com taxas de juros em elevação, o investimento produtivo cai, diminuindo a demanda agregada e, em consequência a renda (o produto) da economia. Neste movimento, enquanto a renda cai, as pessoas desejam menos moeda e isso requer que a elevação da taxa de juros inicial seja menor que a que seria necessária se a renda permanecesse constante. Os agentes só param de rever suas decisões quando os ajustes em taxa de juros e renda tiverem sido suficientes para que não haja mais nem excesso de oferta de títulos, nem excesso de demanda por moeda, nem excesso de oferta de bens e serviços, e o novo equilíbrio macroeconômico assim alcançado apresentará um valor menor para a renda e um valor maior para a taxa de juros, que no equilíbrio inicial, sob as hipóteses usuais deste modelo simplificado de curto prazo.

 Percebeu a diferença entre saber macroeconomia e saber a “macroeconomia das curvas que pulam”?

 

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