Seguimos com nossas atividades no Clube de Leitura e na reunião passada, em que tratamos do Livro Segundo da Teoria Geral, o grande aprendizado foi, sem dúvida, sobre as primeiras elucidações a respeito do papel das expectativas na determinação do produto e da renda, via principalmente seu componente investimento produtivo.
Nos capítulos tratados, importantes definições foram elucidadas e os princípios da formação da contabilidade social, definidos. Nas palavras do próprio Keynes:
Concordamos que tais definições tenham sido inovadoras e complexas para o momento em que estavam sendo propostas, mas nós, formados na tradição keynesiana, tiramos de letra! De qualquer forma, é sempre muito interessante entender como conceitos e definições naturais para nós, hoje, foram desenvolvidos e consolidados, estudando o raciocínio e os argumentos a partir da genialidade de seu formulador.
O papel das expectativas é revelado, ainda que de maneira preliminar, como sendo o elemento principal na interligação entre o presente e o futuro, como parte da decisão de investir:
“Toda produção se destina, em última análise, a satisfazer o consumidor. Normalmente decorre algum tempo — às vezes bastante — entre o momento em que o produtor assume os custos (tendo em vista o consumidor) e o da compra da produção pelo consumidor final. Enquanto isso, o empresário (aplicando-se esta designação tanto ao produtor quanto ao investidor) tem de fazer as melhores previsões que lhe são possíveis sobre o que os consumidores estarão dispostos a pagar-lhe quando, após um lapso de tempo que pode ser considerável, estiver em condições de os satisfazer (direta ou indiretamente); e não lhe resta outra alternativa senão guiar-se por estas previsões, se sua produção tem de ser realizada, de qualquer forma, por processos que requerem tempo.” (TG, início do capítulo 5)
É muito bonito o processo de descoberta da análise dinâmica que permeia a base de fundamentação da macroeconomia e que perdemos quando nos detemos apenas nos livros-texto básicos!
Sigamos para o livro terceiro! Boa leitura!
Até a economia pode ser poética:
“O papel das expectativas é revelado, ainda que de maneira preliminar, como sendo o elemento principal na interligação entre o presente e o futuro, como parte da decisão de investir”.
Muito bom!
Ironia keynesiana, simplesmente sutil.
Se o Tesouro se dispusesse a encher garrafas usadas com papel-
moeda, as enterrasse a uma profundidade conveniente em minas de
carvão abandonadas que logo fossem cobertas com o lixo da cidade e
deixasse à iniciativa privada, de acordo com os bem experimentados
princípios do laissez-faire, a tarefa de desenterrar novamente as notas
(naturalmente obtendo o direito de fazê-lo por meio de concessões sobre
o terreno onde estão enterradas as notas), o desemprego poderia de-
saparecer e, com a ajuda das repercussões, é provável que a renda
real da comunidade, bem como a sua riqueza em capital, fossem sen-
sivelmente mais altas do que, na realidade, o são. Claro está que seria
mais ajuizado construir casas ou algo semelhante; mas se tanto se
opõem dificuldades políticas e práticas, o recurso citado não deixa de
ser preferível a nada.