“How we decide – Capítulo 8
O capítulo 8 intitulado “A Mão de Pôquer” inicia-se contando a trajetória de Michael Binger, um físico da Universidade de Stanford que além de estudar física também é jogador profissional de pôquer.
O pôquer é considerado em sua essência, um jogo de profundidade estatística, em que cada mão é classificada de acordo com sua raridade. Um jogador que consegue analisar as probabilidades envolvidas com as cartas que possui em mãos tem uma vantagem distinta sobre seus oponentes, uma vez que probabilidades maiores indicam uma maior chance de ganhar a mão. No entanto, o pôquer não se baseia apenas em um jogo de cartas, o ato de apostar envolvido em cada rodada é o que faz do pôquer, em especial o Texas hold’em uma arte, uma mistura de dramaturgia e teoria dos jogos. O simples ato de aumentar a aposta possui significados simples, porém difíceis de interpretar. Um jogador que aumenta a aposta pode estar confiante nas cartas que tem em mãos ou então, está blefando e tentando intimidar os outros jogadores a desistirem do jogo para ele ficar com todo o dinheiro. O desafio dos jogadores de pôquer é saber qual a verdadeira intenção do jogador. Essa habilidade é o que jogadores profissionais tentam desenvolver, para isso eles analisam os padrões comportamentais dos jogadores e buscam o menor engano na fala ou no gesto de cada um. Sendo assim, os melhores jogadores de pôquer são também os mais mentirosos. Eles são capazes de envolver seus adversários com blefes sinceros e apostas imprevisíveis.
Para Binger, entender o jogo de cartas consiste em centrar-se nas variáveis mais importantes que estão envolvidas, pensar com clareza e não ficar distraído.
O pôquer é um jogo que possui duas linhas de raciocínio para se ganhar uma partida. Uma que envolve a análise estatística já abordada e a outra que esta associada à indecisão da tomada de decisão. Quando não há respostas óbvias, um jogador de pôquer é forçado a tomar uma decisão utilizando o cérebro emocional. E assim a intuição que vaga sobre a mão, o palpite inexplicável sobre seu oponente, acaba se tornando um fator decisivo.
Os melhores jogadores de pôquer também sabem quando não devem levar apenas a matemática na tomada de decisão. As estatísticas são limitadas e os números não são capazes de dizer tudo. Em determinadas situações é importante ouvir seus próprios sentimentos, mesmo que eles nem sempre respondam a todas as perguntas. Essa é a realidade do pôquer, não é possível construir um modelo perfeito sobre ele.
Dijksterhuis, um psicólogo da Universidade de Amsterdã realizou diversas pesquisas constatando que é melhor realmente usar o cérebro emocional em decisões que envolvam muitas variáveis, pois o córtex tende a simplificar o problema e analisar uma única variável. Dijksterhuis observou ainda em suas pesquisas que quanto mais tempo às pessoas analisavam suas opções, menos satisfeitas com a compra elas ficavam, assim como ao reaplicar o estudo de Timothy Wilson (cap. 5), ele confirma que em situações complexas e subjetivas a tomada de decisão não é melhorada ao envolver o cérebro racional. Agora sabemos que em questões subjetivas a melhor decisão pode ser obtida pelo cérebro emocional, mas como? Talvez o melhor seja adquirir o máximo de informação e se distrair por algum tempo, deixando que o problema fique vagando pelo inconsciente, para só então decidir.
É muito comum no dia a dia tomarmos decisões simples com o emocional e deixarmos decisões mais complexas para o córtex, quando deveríamos fazer exatamente o contrário (isso pode ser algo bem difícil de aceitar), pois comprar um utensílio de cozinha ou escolher o almoço é um problema simples, já decisões tais como a de comprar um carro, um imóvel ou mesmo um sofá envolve muitas variáveis e sobrecarregam o córtex levando a uma pior decisão. Essa ideia não se aplica apenas as compras, mas também diversas situações como um jogo de pôquer ou aos negócios, desde que haja experiência suficiente naquilo que domina (ter gasto certo tempo treinando os neurônios de dopamina).
Binger começou a obter maior sucesso no pôquer ao aceitar que não há solução para o jogo, apenas as probabilidades não são suficientes. O mesmo se aplica aos mercados financeiros, nos dois casos os agentes devem tomar decisão com informação incompleta. Em pesquisa de Lo Andrew, com especuladores e traders foi observado que as melhores decisões foram tomadas com o cérebro emocional enquanto as piores decisões foram tomadas quando as emoções estavam em silêncio. Parece haver uma faixa ideal de respostas emocionais que traders e jogadores de pôquer profissionais parecem exibir, os melhores são aqueles capazes de encontrar esse equilíbrio e desenvolver um sistema cerebral capaz de melhorar o desempenho um do outro.
Podemos observar que Binger está sempre usando o córtex para interrogar suas emoções, isso não quer dizer que ele as ignore, na verdade ele está evitando algum erro emocional óbvio, como em um momento em que se perdem muitas fichas no pôquer com uma boa mão gerando um descontrole emocional e tendendo querer recuperá-las rapidamente. A parte racional é mais apta a monitorar sentimentos e deve ser usada nos momentos em que o cérebro está mais certo de sua decisão. Este é o segredo de Binger, seu cérebro é flexível e capaz de alternar entre emoções e racionalidade. As decisões nunca são simples, se isso acontecer é nesse momento que o córtex deve entrar em ação para questionar o que pode estar errado. O questionamento é importantíssimo no processo decisório, pois faz com que diversas áreas do cérebro sejam utilizadas assim como toda a informação disponível, em contrapartida quando caímos em crises de certeza muitas áreas do cérebro são ignoradas assim como informações, levando a uma decisão pior.
Com a intenção de sintetizar todo o conteúdo visto, o autor propõe alguns “princípios” para tomar uma decisão próxima da certa. Ou seja, quando usar a razão ou emoção ou ambos? Observe que, não é um algoritmo e sim, algo que vem a calhar em algumas decisões.
Primeiro princípio – Problemas simples exigem razão – Há problemas que devem ser resolvidos utilizando nossa velha calculadora, a razão. E outros que exigem a análise de muitas variáveis e que o emocional pode levar à melhor decisão.
Segundo princípio – Problemas novos exigem razão – Utilizar a razão e experiências já vividas para solucionar um novo problema, tal solução pode até ser de maneira criativa devido a conexão existente entre o já vivido e o racional. Nesse caso, a emoção tem um papel importante: se ele estiver bem emocionalmente a decisão será melhor.
Terceiro Princípio – Abraçar a incerteza – precisamos nos perguntar qual é a origem da decisão: se ela advém da experiência, ou somente de um impulso aleatório, somado com a analise das possibilidades de erro e, ainda, conseguir perceber o que está em jogo para evitar surpresas desagradáveis.
Quarto princípio – Você sabe mais do que pensa – O cérebro emocional é o responsável pela tomada de decisões complexas. Ele garante que todas as informações relevantes serão analisadas, e ainda, divide as dúvidas em partes gerenciáveis, e depois o transforma em sentimentos práticos. E o melhor dele é transformar os erros em eventos educacionais, ou seja, você aprende com o erro. No entanto, às vezes o cérebro emocional pode ser impulsivo e míope nas decisões. Isso nos diz que devemos ser razoáveis com as emoções, lembrando que ela é uma grande fonte de informações, mas nem sempre utilizáveis.
Quinto princípio – Pensar sobre o pensamento – Se você tem muitas variáveis para analisar, defina quais são as prioritárias e pense sobre elas. Assim, estamos sujeitos a pensar nas falhas de cada decisão e reduzi-las ao final. Mas caso o erro ocorra, devemos desfragmentá-lo e pensar na melhor decisão. Lembre-se que aprendemos com os erros.
Já aplicando o terceiro princípio aqui, não se deve ter certeza, de imediato, que sabes aplicar o quinto princípio. É aparentemente simples, porém o mais trabalhoso. Conseguir desenvolver esse princípio exige treino, e por consequência, tempo. Os grandes jogadores de pôquer, como Binger, mesmo vencendo o torneio, ao final do jogo, repensam algumas jogadas em que perderam dinheiro e analisam como deveriam ter feito; o diretor executivo de uma televisão, ao errar na escolha de um autor, aprenderá como não deve ser o próximo; os pilotos de avião enfrentam diversas situações em simuladores de voo que os permitem criar bagagem para terem criatividade de enfrentar novos erros; e esses exemplos são os que melhor explicam porque as emoções são inteligentes: porque ela tem a capacidade de tornar o erro um evento educacional, guardando a solução que era conveniente naquele momento, ou seja, sempre vamos poder tomar melhores decisões.
Podemos sempre tomar melhores decisões. O autor neste capitulo mostra, de uma forma mais aplicada – com jogos, pesquisas de compra, investimentos – a combinação de razão e emoção que nos leva a uma decisão. Com os princípios, ele mostra que é possível atingir um mix ótimo – ou próximo dele – que nos leve a boas decisões. Porém ele ressalta: não se desespere quanto ao erro, ele serve para que aprendamos a tomar melhores decisões quando problemas semelhantes ou que conduzam a mesma sistemática venham a ocorrer novamente.
How we decide – CODA
Enfim, de uma maneira bem sucinta, o autor procura fazer uma analogia do sistema de decisão humano (razão e emoção) com o gerenciamento de um voo e seus pilotos.
Comparando a vários pontos citados no texto, o autor vai demonstrando situações (até já citadas nos capítulos) que os pilotos tiveram que enfrentar e o que isso significa no nosso cérebro.
Imagine a cabine de um avião, repleta de computadores: logo acima do para-brisa estão os terminais do piloto automático, que podem manter um avião em curso sem nenhum comando do piloto; na frente os manetes; uma tela que faz a transmissão de informação sobre o estado do avião, a partir de seus níveis de combustível e de pressão hidráulica; mais próximo fica o qual monitora a trajetória de voo e grava a posição e velocidade do avião, então há o painel de GPS; uma tela para atualizações meteorológicas e um monitor de radar. Estes computadores são o cérebro emocional do avião -, e quando trabalham juntos, formam a amígdala do avião.
Os pilotos são o córtex pré-frontal do avião, ficando responsáveis por monitorar cada computador e extrair as informações necessárias deles. Ficam sob sua responsabilidade, as decisões e intervenções.
Os simuladores de voo são os responsáveis por gerar os cenários, criando experiência através dos erros.
Da mesma forma que sob algumas situações congelamos – ou continuamos a jogar nos caça-níqueis – vem a razão para nos ajudar a melhorar nossa decisão, analogamente, os melhores sistemas de piloto automático vão cometer erros. Eles vão soltar, congelar, pilotar o avião em caminhos perigosos, a menos que o piloto esteja lá para corrigir o erro, desligar o computador e puxar o nariz do avião para cima.
Os pilotos também podem errar nas decisões. Eles se esforçam para acompanhar todas aquelas telas diferentes em sua frente, ou seja, a ilustração do funcionamento de nossa velha calculadora não podendo trabalhar com muitas variáveis.
Como na aviação, o primeiro passo para tomar boas decisões é nos observar. Precisamos nos conhecer fielmente detectando pontos fortes e fracos. Depois, devemos usar as ferramentas que vão penetrar na nossa mente para que molde nosso comportamento. Por fim, unir todo o conhecimento, prática e experiência – se já não são sinônimos – e trabalhá-los.
GRUPO 08″
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