Economia Matemática, Política Monetária

L-Eco: Regras versus Discricionariedade

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“Kydland e Prescott deram início ao estudo sobre a credibilidade da política monetária, evidenciando a análise sobre inconsistência temporal. Na perspectiva desses, a utilização de regras para a condução da política monetária representa a melhor solução para que a política atual seja consistente com a política de equilíbrio futura.

Na política consistente, temos 1 como a sequência das políticas dos períodos de 1 até T, e 2 é a decisão correspondente do agente para cada período. Temos que a função do bem estar social é:

                                                   3

Assumindo, que a decisão dos agentes no período t depende de todas as políticas e decisões passadas. Então:

                                              4

Assim, a política 5 é consistente se, a para cada período t, 6maximiza o bem estar levando em consideração as decisões anteriores, e as decisões futuras sendo selecionadas similarmente.
Já que uma política consistente não considera os efeitos de políticas t+1 nas decisões dos agentes em T, essa apenas será ótima caso o efeito das políticas futuras nas decisões presentes dos agentes for nulo, mesmo tendo conhecimento de tal política no presente.

A inconsistência é facilmente mostrada por um exemplo de dois períodos:
Para T=2, 12 é selecionada maximizando 7, sujeito a:

8  e 9

Assumindo derivabilidade e uma solução interior, então necessariamente:
                                                                  10

A política consistente ignora o efeito em que 12 tem sobre 13. Então para o modelo ser ótimo, a condição de primeira ordem é:
                                                                    11

Apenas se o efeito de 12 em X1 for zero ou se os efeitos das mudanças de 13 em S através de X2 for zero, o modelo consistente será ótimo.

Desta maneira, as políticas devem ser tomadas de acordo com as ações presentes, sendo controversa a qualquer tipo de controle. Segundo Mishkin, para as regras de política há algumas contradições, pois não há conhecimento do verdadeiro modelo econômico, sendo essas muito rígidas não prevendo todas as contingências, além de não serem incluídas e modificadas facilmente.

Em contrapartida, o método backward induction não pode ser aplicada em períodos infinitos para determinar a consistência da política, pois não temos um período final para começarmos a indução.  O conceito de consistência pode ser definido em termos de regras.  Supondo no tempo t a economia pode ser demonstrada por um vetor 19, de política variáveis 6 de variáveis demissíveis 14, e de choques aleatórios  (temporariamente independente). O movimento no tempo:

                                                               15

O retorno da política de regra para o período futuro:

                                                               16

Agentes racionais vão atuar no futuro:

                                                               17

Portanto mudanças no futuro afetam o presente. Assim, a decisão dos agentes será:

                                                               18

Caso os agentes e os tomadores de política não possuem o conhecimento da dinâmica econômica, com o tempo, os agentes vão convergir para o equilíbrio de regras mostrado nas equações acima. Políticos deveriam considerar o trade-off  de resultados atuais relativos aos resultados esperados do futuro.

Assim, de acordo com o livro-texto é revelado às limitações potenciais de políticas discricionárias. Desta maneira, os tomadores de política tendem a abandonar um bom plano de longo prazo quando estão visando decisões de curto prazo. Os formuladores de políticas sempre procuram fazê-las mais expansionistas que as firmas e que os indivíduos esperam, pois tal política iria aumentar a produção econômica no curto prazo. Não sendo a melhor opção, pois essa interfere nas expectativas dos agentes sobre as políticas, levando a uma maior expectativa de inflação para o futuro, o que irá ocasionar um aumento no salário e no nível de preços, contudo não leva a um aumento na produção no longo prazo.

 

Referencias:
KYDLAND, F. E.; PRESCOTT, E. C. Rules rather than discretion: the inconsistency of optimal plans. Journal of Political Economic, v. 85, n. 3, p. 473-492, 1977.

MISHKIN, Frederic. The Economics of Money, Banking and Financial Markets. 10th edition. Boston: AddisonWesley, 2009.”

 

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34 comentários em “L-Eco: Regras versus Discricionariedade”

  1. Durante o período da década de 1970 a análise teórica da política monetária sofreu mudanças significativas a partir da introdução do conceito de expectativas racionais à teoria econômica. Este elemento foi de crucial importância porque implicou uma transformação na interpretação do comportamento dos agentes frente à política monetária. De acordo com a interpretação desenvolvida por Lucas e Sargent, que ficou conhecida como novo-clássica, os agentes fazem uso da melhor forma possível das informações disponíveis. Logo, na ausência de barreiras informacionais, a possibilidade de ilusão monetária, elemento-chave para explicar a existência do trade-off na curva de Phillips deixa de existir. Em outras palavras, variações sistemáticas na política monetária, sob expectativas racionais, não são capazes de afetar o lado real da economia.
    Concomitante às transformações que a teoria macroeconômica vinha sofrendo, como por exemplo o aparecimento durante a década de 1980 dos economistas neo-keynesianos que em sua maioria adotavam um modelo dinâmico de equilíbrio geral combinado à expectativas racionais e com rigidez temporária dos preços nominais, uma nova discussão teve início a partir da questão de como minimizar perdas sociais quando medidas políticas precisam ser tomadas em diversos períodos no tempo. A partir de então, um problema potencial que passou a despertar grande interesse na academia consiste em verificar se as autoridades políticas devem agir segundo regras que determinam as ações a serem feitas em qualquer momento, ou se devem otimizar a escolha dos instrumentos políticos à cada período no tempo. Este tema deu origem ao famoso debate Regras versus Discricionariedade.
    Ainda na década de 1970, Kydland & Prescott como citado pelo grupo iniciaram o estudo sobre a credibilidade da política monetária ressaltando a análise sobre inconsistência intertemporal. Na perspectiva deles, a utilização de regras se mostra a melhor solução para que a política atual seja consistente com a política de equilíbrio futura ao se conduzir a política monetária. Seguindo a mesma linha de argumentação, Barro & Gordon na década de 1980, retomaram a análise efetuada pelos dois autores anteriores e salientaram a importância do papel da reputação sobre a política monetária como forma de disciplinar a condução da mesma. O ponto central da análise é que a persistência da inflação é atribuída à perda de reputação do governo, devido ao não cumprimento dos acordos previamente firmados com a sociedade.

    Fonte:

    Clique para acessar o 87-3.pdf

  2. Como o post mostra, a inconsistência dinâmica pode ser entendida como o uso da discricionariedade na gestão da política monetária durante os ciclos políticos, ou seja, ocorre quando os interesses de curto prazo superam os interesses de longo prazo.
    Sobre esse assunto, encontrei a tese “Ciclos econômicos, expectativas e inflação: uma análise a partir de estimações da Curva de Phillips Novo Keynesiana”, apresentado na Universidade Federal do Ceará. Nela, a autora busca verificar – através do uso da Curva de Phillips Novo Keynesiana – como o comportamento discricionário da autoridade monetária pode interferir nas expectativas futuras dos agentes, e de que forma isso pode impactar a resposta da inflação aos choques na economia.
    Para a análise, é utilizado o método GMM-HAC e informações mensais do IPCA, IPCA esperado, PIB, Hiato do Produto e Hiato do Desemprego entre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2012. (ver quadro 1)
    Segundo a autora, “as evidências parecem indicar que, quanto maior a credibilidade das autoridades monetárias, maior será a capacidade dos indivíduos em prever o comportamento da inflação e, consequentemente, menor será o custo de uma política de desinflação em termos de oscilações cíclicas na atividade econômica”. Além disso, “os resultados sugerem que, em um ambiente de maior incerteza, a inflação tanto se mostra mais sensível às oscilações nos ciclos econômicos como tem o seu componente inercial majorado”. Acredito que essa maior persistência da inflação possa ser, também, resultado da diminuição da variável “reputação da autoridade monetária perante os demais agentes”.

    Fontes:

    Clique para acessar o 2015_dissert_mtaoliveira.pdf

    Clique para acessar o 2010

  3. Os novos mecanismos de transmissão (rigidez de preços e salários nominais) da política econômica e choques proporcionaram o desenvolvimento da teoria monetária positiva e normativa, ganhando forte relevância o debate de regras versus discricionariedade na condução da política monetária de controle da inflação. Uma política consistente maximiza a função objetivo sujeita à curva de Phillips, com isso foi mostrado que a escolha ótima de política é inconsistente. Assim, a política consistente é subótima, porque as decisões dos agentes são realizadas a partir de suas expectativas sobre a política futura e estas são influenciadas pelos planos escolhidos, segundo a crítica de Lucas.
    As autoridades monetárias que agem discricionariamente estão selecionando a melhor política, dada a situação atual, ou seja, a política consistente. Somente a adoção de regras de atuação que possam ser incorporadas ao conjunto de informações dos indivíduos para a sua formação de expectativas sobre a política futura, pode levar à escolha ótima da política econômica, maximizando a função objetivo social.
    A ausência de compromisso com a tecnologia e a ambição em obter a taxa de desemprego abaixo de sua taxa natural faz com que a autoridade monetária tenha incentivos a promover surpresa inflacionária que não é consistente com o tempo, isso faz com que surja o viés inflacionário, já que os agentes estão sempre ajustando suas expectativas fazendo com que o desemprego se estabilize, porém que a inflação fique acima do ótimo. Com as regras para a atuação do Banco Central, o resultado seria o mesmo, o benefício de curto prazo da surpresa inflacionária é menor que o de longo prezo de estabilidade de preços.

    Clique para acessar o regras-x-discricionariedade.pdf

  4. O debate econômico de Regras x Discricionaridade é um debate antigo para formulação de políticas macroeconômicas, pois de acordo com a maioria dos economistas a adoção de políticas de curto prazo que visam melhorar o nível de emprego no curto prazo, mas que no longo prazo causam efeitos ruins como queda do produto e aumento da inflação. Como dito no post e realçado nos comentários, ocorreu uma grande transformação no pensamento quando surgiu a perspectiva de expectativas racionais, que traria novas análises para esse debate principalmente sob a ótica neo keynesiana de que a economia não se ajusta de forma instantânea e suave a choques sendo necessárias a incorporação de fundamentos microeconômicos, culminando num modelo de equilíbrio geral dinâmico. com expectativas racionais. Pois em alguns períodos de crise nem sempre uma política de regras é a melhor resposta, primeiro, pois os agentes já não acreditam mais naquele sistema, logo ele não tem credibilidade e é necessário políticas discrionárias para tentar uma retomada do crescimento do produto. A maioria dos estudos como os estudos de Kydland & Prescott e Barro & Gordon demonstram que em condições normais a adoção de uma política de regras é a melhor alternativa, entretanto como dito anteriormente em períodos de crise devido as expectativas racionais os agentes não responderão sob a mesma forma aquela política de regras, e pode ser necessária a adoção de políticas discrionárias para enfrentar a situação.

    Fontes; DE MENDONÇA, HELDER FERREIRA. A Teoria da Credibilidade da Política Monetária.

  5. As vantagens na adoção de regras são:
    -O problema da inconsistência temporal tendem a não ocorrer, pois os legisladores terão que seguir as regras, fato que pode trazer resultados positivos para a economia no longo prazo.
    -Dado que não se pode confiar em políticos, a adoção de regras limita os erros que estes podem cometer. Outro fato é que a adoção de regras inibem os políticos de fazerem políticas que visem apenas o curto prazo, ou seja, as regras inibem o ciclo político dos negócios.

    As vantagens das políticas discricionárias são:
    – As regras podem ser muito rígidas e pode não preveem contingências.
    -As regras não incorporaram a sensibilidade dos políticos quanto ao que ocorre com a economia.
    – Ninguém sabe qual o modelo correto para a economia, logo a adoção de uma regra de um determinado modelo, pode ser inconsistente. A discrição evita a adoção de regras de modelos equivocados.
    – Caso o modelo econômico estiver correto, alterações estruturais na economia deveria conduzir a mudanças nas regras pré-estabelcidas. Essas alterações podem ser feitas facilmente com a discricionariedade.

    Fonte:

    MISHKIN, Frederic. The Economics of Money, Banking and Financial Markets. 10th edition. Boston: AddisonWesley, 2009

  6. O artigo “Discricionariedade na Política Monetária Brasileira após o plano real: Um teste baseado na correlação de longo prazo entre inflação e produto”, tenta obter evidências empíricas que indiquem se a política monetária brasileira, após a implantação do Plano Real, pode ser mais plausívelmente descrita como pautada por regras ou discricionária.
    “A evidência empírica encontrada representa um indício contrário à condução de uma política discricionária durante o período analisado, julho de 1994 a dezembro de 2006. Essa conclusão vale tanto para o regime de câmbio fixo quanto para o regime de metas de inflação. Ou seja, a coexistência de política monetária pautada por regras e estabilização é o cenário empiricamente mais plausível para o período analisado”
    O trabalho procura testar uma implicação empírica do modelo Barro e Gordon na economia brasileira pós Plano Real.
    Segundo o autor, a evidência encontrada corrobora com a noção de que “estabilização acompanhada da adoção de regras de política reforça o próprio processo de estabilização, tendendo a torná-lo algo estável e duradouro.”
    Portanto, é possível perceber que a autoridade monetária parece ter se pautado por uma conduta baseada em regras desde o começo da estabilização.

    Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rec/v15n3/01.pdf

  7. O debate de regras e discricionariedade na política monetária já tem décadas, e não podemos dizer com certeza que existe uma resposta claro à pergunta de qual é a melhor abordagem. Gerir a política monetária puramente por discrição é claramente uma ideia ruim: impede-se que os agente na economia formem expectativas de inflação futura de forma clara, uma vez que é impossível prever o que as autoridades monetárias farão. Problemas de inconsistência dinâmica podem e costumam aparecer nesses cenários, piorando ainda mais o problema das expectativas.
    Mas também não é claro que um sistema puramente baseado em regras seja efetivo. É necessário que os gestores da política monetária possam responder a possíveis choques imprevistos ou acomodar flutuações na oferta e na demanda. Mas nesse caso os problemas de inconsistência dinâmica desaparecem.
    É interessante notar então que a maior parte dos bancos centrais se colocaram no meio do caminho nesse debate. Eles costumam adotar metas de inflação, mesmo que implícitas, para o longo prazo, e tem ampla liberdade operacional para decidir como alcançar a meta. Por ser uma meta de longo prazo, os agentes conseguem formar expectativas claras mesmo que no curto prazo as autoridades monetárias embarquem em movimentos acomodatícios.

    1. Muito bem levantado, Lucas. Em vez de ficarmos discutindo qual método é o melhor, se regras ou discricionariedade, deveríamos nos atentar em encontrar uma forma de aliar as vantagens de ambos. A maior vantagem da política discricionária é que ela permite à autoridade monetária responder a choques imprevisíveis na economia; a maior vantagem da política de regras é que ela evita, ou ao menos atenua, a inconsistência intertemporal, minando o incentivo que o tomador de política tem em explorar o trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego.

      Há várias maneiras de se combinar estes dois tipos de políticas, uma delas apresentada no próprio livro-texto, em que há um elemento que caracteriza a condução autônoma da política monetária, ou seja, que não necessariamente acompanha variações da taxa de inflação. É este elemento que dá maior liberdade à autoridade monetária a reagir a choques inesperados.

      Por outro lado, deve haver uma resposta endógena da política monetária à inflação: quando esta aumenta, o Banco Central deve elevar a taxa nominal de juros mais do que proporcionalmente ao aumento da inflação esperada, para então elevar a taxa real de juros e desaquecer a economia, a fim de conter a pressão inflacionária. Ou seja, a autoridade monetária não pode ficar passiva diante de um aumento persistente do nível geral de preços.

      Ao se combinar ambos os modos de conduzir política monetária, pode-se conseguir, ao mesmo tempo, a estabilização do gap do produto (produto efetivo – produto potencial) e do gap da inflação (inflação efetiva – meta de inflação, caso este seja o regime adotado). Isto ocorre quando há um choque de demanda ou um choque de oferta permanente na economia, como aprendemos em aula. Esta possibilidade é tão boa que recebeu um nome ousado, ”coincidência divina”, dado por Blanchard.

      No entanto, também vimos que com um choque de oferta temporário o BC deve escolher entre estabilizar a inflação ou o produto, não sendo possível, no curto prazo, reduzir ambos os gaps. Por isso que o debate simplório regras x discricionariedade, na minha opinião, deve ser definitivamente superado, passando deste para outro debate mais interessante: como aliar da melhor forma possível (mais eficiente) regras E discricionariedade? Será que há alguma forma de o Banco Central atingir, a curto prazo, a estabilização do produto e da inflação mediante um choque temporário da oferta? Cabe ressaltar que este tipo de choque nem sempre se desfaz rapidamente, então nem sempre a melhor opção para a autoridade monetária é ”não fazer nada”. Este debate, para mim, é muito mais interessante.

  8. De fato, não é trivial julgar qual das opções entre regras e discricionariedade é a “correta” a ser estabelecida para a ação da política monetária. Em minha opinião, o fato de o estabelecimento de regras eliminar o problema da inconsistência dinâmica é uma grande vantagem, pois o ciclo político de realização de políticas expansionistas em anos eleitorais é um problema não apenas no Brasil, como no mundo todo. Pesquisando sobre o assunto, encontrei um artigo que avalia se a atuação da política monetária no Brasil após o estabelecimento das metas de inflação tende a ser mais enviesada por regras ou discricionariedade. Sendo que a política de metas de inflação se inseriu no meio termo neste debate. Assim, a ideia do artigo é avaliar se a implementação da política monetária brasileira corresponde ao resultado esperado da regra de Taylor. O resultado é que, a partir de 2011, nossa política monetária pende a atuar mais de maneira discricionária.

    Clique para acessar o 2014_ElionRodriguesTerra.pdf

    1. Ainda falando sobre ciclo político de negócios, é importante ressaltar que de nada adianta se ter um Banco Central que siga uma regra de política monetária, em teoria eliminando o problema da inconsistência dinâmica, se tal autoridade monetária não tiver independência para conduzir a política econômica. Um BC subordinado aos interesses do presidente e/ou Congresso terá incentivo para realizar uma política expansionista às vésperas das eleições, ou em algum momento em que a popularidade do presidente estiver baixa. Um BC não independente ainda pode ser conivente com uma política fiscal expansionista praticada pelo governo, não agindo no sentido de reduzir os gaps do produto e da inflação, para atender a interesses políticos. Enfim, a condução da política monetária não passa apenas pelo debate regras versus discricionariedade, mas também envolve questões institucionais da própria autoridade monetária e, porque não, do próprio país em questão.

  9. O debate entre a gestão da política monetária através de regras ou de forma discricionária passa pela ideia de credibilidade e reputação que os países transmitem aos agentes econômicos. De certa forma em países emergentes a construção da reputação é vital para a estabilidade econômica e saúde financeira de um país, e transparência combinada com políticas determinadas por regras passam aos agentes uma perspectiva de menos incerteza quanto às expectativas futuras.

    Por outro lado o descompromisso com o aumento na inflação futura (no longo prazo), resultado que a discricionariedade pode acarretar na economia, pode levar os agentes a reconhecerem essa elevação, reajustar suas expectativas para cima e causar inflação no curto prazo. E como já mencionado, a questão de promover políticas monetárias expansionistas em ciclos eleitorais faz com que, do ponto de vista da busca da estabilidade inflacionária em um país em desenvolvimento, a gestão por regras pode ser mais eficaz.

    MISHKIN, Frederic. The Economics of Money, Banking and Financial Markets. 10th edition

  10. A discussão sobre discricionariedade ou regras remete a introdução das expectativas racionais na tomada de decisão dos agentes econômicos. Antes da revolução das Expectativas Racionais os agentes tomavam sua decisão baseadas em modelos estáticos. Assim os parâmetros, as curvas, nada disso se modificavam quando se fazia politica monetária. Com a critica de Lucas, e posteriormente com maiores pesquisas, a utilização do conceito de expectativas racionas com o hipótese de mercados competitivos, preços e salários flexíveis, foi demonstrado a neutralidade da moeda que além do longo praza também não havia efeitos no Curto Prazo. Sob este cenário a politica monetária seja feita de forma a surpreender os agentes ou não teria efeito nulo sobre a atividade econômica, pois os agentes trariam do futuro as consequências da politica monetária para o presente, anulando assim qualquer efeito.
    Contudo, este resultado é obtido pela hipótese de mercados competitivos, retirando essa hipótese e colocando a hipótese de mercado com rigidez de salários e preços. Existe um trade-off entre inflação e desemprego. Neste cenário, então, faz sentido se perguntar em qual caso, discricionário ou por regras obtém-se o melhor resultado da politica monetária.
    Uma pergunta formulada Mishikin no seguinte artigo esta diretamente vinculada a pergunta anterior. A pergunta feita por ele é: Antecipação da politica monetária importa?. E a conclusão do artigo é um enfático sim. Antecipação da politica monetária importa, isto quer dizer que ao antecipar os agentes produzem efeitos de magnitude diferente de quando não antecipada a politica. Além do mais a hipótese de neutralidade da moeda no curto prazo é quebrada no artigo. E também é constatado que a não antecipação da politica econômica não tem um grande impacto do produto e no desemprego quando comparado com a antecipação da politica monetária.

    Clique para acessar o CopiaAula1%20Mishkin%201982.pdf

  11. Após a criação e implementação do Plano Real, foi necessário que o Brasil adotasse medidas para regular a economia, com o intuito de garantir a estabilidade dos preços na economia, um objetivo que diversos planos anteriores ao Real tentaram sem efetividade.

    Em um trabalho, dois autores aplicaram o modelo de Barro e Gordon para a Economia Brasileira pós Plano Real. Tal implicação permitiu avaliar se a Política Monetária, regrada ou se foi discricionária. Na estimação, a rejeição da hipótese nula significa que a correlação de longo prazo entre inflação e produto é zero ou negativa, o que representando evidência a favor de uma política discricionária no país no período analisado. Entretanto, a evidência empírica apontou rejeição da hipótese nula, indicando que houve a coexistência de política monetária pautada por regras e
    estabilização.

    Obs: O Artigo é de 2008, não foi adicionado no modelo os anos mais recentes.

    Link:http://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2013/12/2008_wpe116.pdf

  12. É levantado pelo artigo que no livro-texto de Mishkin encontra-se que ‘por não haver modelo pré-definido de política monetária, as regras sejam inconsistentes no longo prazo’. Dentro deste ponto é possível abrir um parênteses interessante com duas observações: em primeiro lugar, realmente é possível considerar que a inexistência de ‘modelos fechados’ em economia torne a questão dos juros aberta – e isso é sinalizado com a situação dos EUA (que não sentem firmeza há anos para realizar um aumento de sua taxa básica de juros por não saberem exatamente os efeitos sobre o PIB) ou mesmo do Japão (que pratica taxas de juros negativas e, nem assim, tem conseguido alcançar seu objetivo de mover a economia positivamente de maneira sustentável); por outro lado, escolher a discricionariedade também é um caminho perigoso: a Regra de Taylor não é perfeita, mas desviando do que ela indicava entre 2011 e 2013 colocamo-nos em situação de ter de aumentar a Selic muito mais proporcionalmente do que deveríamos (o que sinaliza que, se a regra não faz sentido ao longo do tempo, a discricionariedade também não). Trata-se de um assunto em aberto; mas, na prática, tende-se a encontrar resultado econômico mais estável em nível de preços, que é o fator que diretamente a taxa de juros busca direcionar, quando há regra do que quando há discricionariedade.

  13. Acho interessante ressaltar, a necessidade de realizar uma política discricionária em alguns momentos. Sempre reflito sobre qual seria a decisão certa a ser tomada diante à uma grande queda no produto hoje, a qual poderia gerar milhares de desempregados. deixando pessoas na pobreza, e diante à alguma grande bolha financeira que ao ser estourada pode trazer consequência gravíssimas.

    Encontrei um paper sobre as ações discricionárias do FED durante o período da crise de 2008, onde o BC atuou tardiamente nos mercados financeiros, e acabou impossibilitando-o de utilizar as tradicionais ferramentas de política monetária, fazendo com que fossem utilizadas políticas discricionárias para tentar conter os efeitos da bolha. Apesar desse paper, ainda continuo com uma dúvida, afinal, quando devemos utilizar política discricionárias? em bolhas?

    Clique para acessar o a05v20n2.pdf

  14. O método de backward induction começa pelo fim, isto é, os policy-makers começam pelo resultado final e começam a se indagar quais ações anteriores dos agentes econômicos são mais prováveis de levar àquele resultado final, sendo que este método é um tanto quanto comum na teoria dos jogos. Em seu artigo, “Rules rather than discretion: the inconsistency of optimal plans”, Kydland e Prescott chegam a resolver um modelo de consistência temporal por backward induction, mas, como ressaltado no post, ele só é consistente em um período de tempo finito, porque necessita “começar pelo fim”, algo que não é compatível com um modelo infinito de períodos de tempo. Esse método apresenta algumas falhas, como as ações dos players na vida real podem diferir das previstas pelo método, bem como se os agentes agirem de modo irracional, o método também falha ao prever suas ações, há alguns dilemas que ilustram esse fato. Embora seja pouco plausível, é um método bem interessante.

  15. Como já foi explicado, a política pode ser feita de modo discricionário ou via um sistema de regras. A política discricionária é aquela que se realiza sem ser previamente anunciada, possuindo um caráter surpresa. Já a política via regras é aquela que é combinada previamente, sem surpresas, de modo que o policymaker anuncia antecipadamente como as coisas serão.
    O sistema discricionário e de regras possuem vantagens e desvantagens: o sistema discricionário permite maior facilidade de gerar políticas acomodatícias (que se adequam a uma situação de choque imprevista), mas geram maior incerteza e instabilidade pro mercado. O sistema de regras, por outro lado, perde certa flexibilidade de fazer políticas acomodatícias (perde completamente no caso de regras fixas), mas garante maior previsibilidade e consequente menor incerteza para os agentes. Regras fixas e rígidas podem ajudar o policymaker a ganhar credibilidade em caso de não a ter.
    Dessa forma, governos com alta credibilidade não terão tanto problema de incerteza mesmo em situações discricionárias, desde que não as façam de maneira errada.
    Para quem se interessar, segue abaixo o link de um artigo bem didático sobre o assunto: http://terracoeconomico.com.br/jeitinho-brasileiro-regras

    MISHKIN, Frederic. The Economics of Money, Banking and Financial Markets.

  16. Em relacao ao debate explorado pelo post do grupo L, podemos discutir o regime de metas de inflacao brasileiro, uma vez que esse engloba caracteristicas de regimes de regras e de regimes dicricionarios. Instituido no Brasil em 1999, o regime de metas determina que o Banco Central pre-defina e anuncie publicamente qual sera a meta de inflacao, e entao tenha liberdade para tomar as medidas de politica monetaria necessarias para atingi-la, inclusive discricionariamente frente a choques inesperados.

    Em outras palavras, o Banco Central age segundo regras à medida em que anuncia previamente sua meta e, portanto, ancora as expectativas dos agentes em relacao ao futuro; ao mesmo tempo, a discricionariedade permite que o Banco Central responda a choques inesperados para redirecionar a economia à meta pre-definida. Esse mecanismo explicado acima auxilia a compreensao dos beneficios do regime de metas de infalacao: um regime pautado somente por regras restringe as possibilidades de acao do Banco Central diante de choques inesperados; um regime discricionario, por sua vez, dificulta a formacao de expectativas dos agentes; enquanto que o regime de metas possibilita a co-existencia dos beneficios de ambos os regimes.

    Contudo, vale lembrar que, ao estabelecer uma meta para a inflacao e atuar no mercado de titulos para atingir a taxa de juros condizente, o Banco Central abre mao de fixar uma taxa de cambio ou de crescimento economico. De qualquer forma, em um pais com historico de hiperinflacao recente, parece coerente que o controle da inflacao deva ser buscado com prioridade pelas autoridades monetarias.

  17. O post do grupo dessa semana convida a discussão sobre regras e discricionariedade.
    Os economistas do mainstream costumam preferir a primeira à segunda, já que o poder de discricionariedade tende a produzir problemas de inconsistência dinâmica, que por sua vez leva à perda de credibilidade do Banco Central (BC).
    A discricionariedade, por outro lado, é defendida por economistas que demandam uma atuação mais ativa do BC, o qual não deveria apenas atuar para controlar a inflação e variações no produto, mas também tomar medidas no sentido de garantir estabilidade do sistema financeiro.
    Mesmo que se concorde que seria ideal que o BC pudesse ter um papel mais ativo e discricionário na condução da política monetária, costuma-se criticar essa posição apontando-se que os responsáveis pelo BC não anjos que visam a maximizar o bem estar, mas indivíduos auto interessados sujeitos a tentações políticas de curto prazo.
    Em outras palavras, mesmo que um “anjo” na condução do BC pudesse ter melhor desempenho sob um regime discricionário, a ausência de regras não seria adequada supondo-se que os dirigentes sejam auto interessado.
    Em resumo, a discricionariedade não é um regime institucional robusto à hipótese de auto interesse.

  18. Realmente é muito interessante o debate proposto com esse tema. O trabalho de Kydland-Prescott sobre consistência intertemporal e contribuiu diretamente para a revolução das teoria das expectativas racionais. O legado deixado pelos autores é o reconhecimento de que os policy makers devem enfrentar o tradeoff entre a consistência intertemporal da política de regras e o desejo de atender o interesse público em um ambiente de incertezas da política discricionária. Ou seja, os sábios e sensatos policy makers devem pensar nas respostas prováveis ​​do público de acordo com as suas respostas – assim como o público joga o mesmo jogo com eles. Ao meu ver, somente esse tipo de análise pode produzir uma política consistentemente sólida.

  19. É interessante o debate sobre regras ou discricionariedade, e em muitos casos há divergência de opiniões sobre o assunto. No Brasil pós-plano real, mais especificamente 1994 – 2006, há evidência empírica de indícios contrários a discricionariedade, num período em que há transição das bandas cambiais para o regime de meta de inflação. Nos dois casos há evidência de preferência pelas regras ao invés de discricionariedade.
    Existe um certo consenso de que a estabilização via discricionariedade é curta e eficiente somente se os choques que atingem a economia tiverem baixa magnitude e forem pouco persistentes. Dessa forma, considerando-se o caso brasileiro, parece mais plausível de fato adotar uma política monetária pautada em regras. Isso é menos óbvio sob um regime de câmbio fixo, o que mostra que podem haver diferentes graus de discricionariedade para diferentes períodos, mesmo assim, nos dois casos prevalece o uso de regras no Brasil.

    Clique para acessar o 2008_wpe116.pdf

  20. A discussão sobre regra e discricionariedade começa com o conceito de inconsistência dinâmica, para que se aumente o bem-estar social através da escolha de uma política econômica é necessário considerar decisões e políticas passadas. Neste caso estamos falando de uma política discricionária que é consistente. Ou seja, eleva o bem-estar social hoje.
    A política discricionária não contempla as decisões política a serem tomadas no período posterior, desta forma a crítica de Lucas se encaixa, os agentes mudam de decisão quando sabem que políticas estão sendo feitas. Como os agentes mudam suas expectativas sobre o futuro a melhor política a curto prazo não é a melhor política no longo prazo.
    A expectativa futura é importante pois influencia as decisões dos agentes no presente, e apenas a adoção de regras pode maximizar a função objetivo social.

  21. A discussão é deveras interessante e importante. Como já dito em comentários anteriores, como o Lucas, Arthur e outros, a discussão qual melhor método é algo complicado, porque os dois métodos tem utilidade na condução da política monetária.

    As Regras são políticas monetárias automáticas, que requerem pouca ou nenhuma forma de análise macroeconômica ou julgamentos pelas autoridades monetárias. Os principais argumentos a favor das regras são a disciplina e a credibilidade que elas criam, mas podem apresentar alto custo, principalmente quando ocorrem circunstâncias imprevistas ou choques na economia. Já um banco central que segue apenas a discricionariedade não explicita ao público seus objetivos ou ações futuras, talvez apenas vagamente. Dessa forma, reserva aos formuladores de políticas monetárias a tomada de decisões mês a mês, ou semana a semana, baseados em avaliações das condições correntes. Alguns economistas defendem que esse modelo preserva a flexibilidade, além de possibilitar ao banco central responder a acontecimentos inesperados e a novas informações. Entretanto, os defensores das regras, argumentam que a discricionariedade pura compromete a disciplina inerente às regras, sendo que a falta de percepção de disciplina pode levar incerteza à mente do público e aumentar a propensão de inflação na economia.

    Na práxis política, a maioria dos bancos centrais adotam metas de inflação, muitas vezes implícitas, para o longo prazo, mas tem ampla liberdade operacional para decidir como alcançar a meta. No caso do Brasil, o regime de metas funcionou até quando houve certa preferência da discricionariedade em relação às regras. Nesse período observamos uma subida da inflação, que hoje varia muito próximo ao limite da banda superior da meta, e uma queda e retomada da taxa de juros.

    http://bdm.unb.br/handle/10483/8683
    http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/04/solucao-da-economia-e-politica-nao-tecnica-diz-marcos-lisboa.html

  22. A discussão é deveras interessante e importante. Como já dito em comentários anteriores, como o Lucas, Arthur e outros, a discussão qual melhor método é algo complicado, porque os dois métodos tem utilidade na condução da política monetária.

    As Regras são políticas monetárias automáticas, que requerem pouca ou nenhuma forma de análise macroeconômica ou julgamentos pelas autoridades monetárias. Os principais argumentos a favor das regras são a disciplina e a credibilidade que elas criam, mas podem apresentar alto custo, principalmente quando ocorrem circunstâncias imprevistas ou choques na economia. Já um banco central que segue apenas a discricionariedade não explicita ao público seus objetivos ou ações futuras, talvez apenas vagamente. Dessa forma, reserva aos formuladores de políticas monetárias a tomada de decisões mês a mês, ou semana a semana, baseados em avaliações das condições correntes. Alguns economistas defendem que esse modelo preserva a flexibilidade, além de possibilitar ao banco central responder a acontecimentos inesperados e a novas informações. Entretanto, os defensores das regras, argumentam que a discricionariedade pura compromete a disciplina inerente às regras, sendo que a falta de percepção de disciplina pode levar incerteza à mente do público e aumentar a propensão de inflação na economia.

    Na práxis política, a maioria dos bancos centrais adotam metas de inflação, muitas vezes implícitas, para o longo prazo, mas tem ampla liberdade operacional para decidir como alcançar a meta. No caso do Brasil, o regime de metas funcionou até quando houve certa preferência da discricionariedade em relação às regras. Nesse período observamos uma subida da inflação, que hoje varia muito próximo ao limite da banda superior da meta, e uma queda e retomada da taxa de juros.

    http://bdm.unb.br/handle/10483/8683
    http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/04/solucao-da-economia-e-politica-nao-tecnica-diz-marcos-lisboa.html

  23. O debate sobre regras ou discricionariedade vem de longa dada. Acredito que atualmente ele seja, especialmente pertinente para o contexto da economia brasileira. Será que a atual crise econômica não foi resultado da adoção de políticas discricionárias por parte do Banco Central? Acredito que provavelmente se o Banco Central agisse de acordo com regras ou tivesse respeitado as regras que diz seguir talvez a crise econômica que o país vive não fosse tão grave. Hoje talvez seja um momento em que o debate sobre regras ou discricionariedade seja fundamental para o futuro econômico do país.

    1. Pedro, não defendendo a atuação das políticas macroeconômicas adotadas no Brasil durante o período de “gestação” dessa nossa crise, mas o Banco Centro Brasileiro, em si, não agiu discricionariamente. O problema é que o grau de independência da política monetária no Brasil é baixo, e não engloba a “independência de objetivo” que já foi discutida no curso, de modo que todos os integrantes do COPOM são indicados diretamente pela presidência. Além disso, os fatores que levaram à nossa crise fiscal e de produto também estão muito mais ligados à política fiscal do governo, que depende tanto do legislativo quanto do executivo para limitar gastos, aprovar subsídios e do desenhos dos tipos de “incentivos” que a política fiscal promoveu na economia brasileira. Mesmo uma atuação da política monetária “regrada” não seria capaz de evitar, sozinha, está crise.

  24. Milton Friedman, em sua visão, sugere que a autoridade monetaria busque evitar oscilações bruscas no comportamento da politica monetária, já que suas decisões se dão conforme a conjuntura economica atual, entretanto, suas decisões demoram a surtir efeito na economia, Sendo assim, há a propensão da autoridade monetária lançar mão de flutuações
    inesperadas sobre a economia para alcançar os objetivos pretendidos pelo governo. Em outras palavras, pode-se dizer que o responsável pela política está sujeito ao chamado viés inflacionário.
    Portanto, é necessário criar mecanismos que evitem tais flutuações, Friedman sugere a adesão de regras, onde a autoridade monetária deve ter uma taxa limitada de expansão monetária, predeterminada, assim, seria produzida em media uma inflação ou deflação moderada.

  25. Araujo e Donha (2011), buscaram testar uma implicação do modelo Barro e Gordon para a economia brasileira pós-Plano Real, com a intenção de obter evidências empíricas que pudessem indicar se a Política Monetária Brasileira, após a implantação do Plano Real, pode ser mais plausivelmente descrita como discricionária ou pautada por regras.

    O autores encontraram uma evidência empírica que representa um indício contrário à condução de uma política discricionária durante o período analisado, julho de 1994 a dezembro de 2006. Essa conclusão vale tanto para o regime de câmbio fixo quanto para o regime de metas de inflação. Ou seja, a coexistência de política monetária pautada por regras e estabilização é o cenário empiricamente mais plausível para o período analisado, quando considerado o modelo de Barro e Gordon. Para os autores, à luz desse modelo, existe evidência de que o comportamento do produto e da inflação pode ser compatível com o equilíbrio associado ao comprometimento.

    Conclusivamente, a coexistência de política monetária pautada por regras e estabilização é considerado pelos autores como um cenário empiricamente plausível. De fato, essa conclusão vale tanto para o regime de câmbio fixo quanto para o regime de metas de inflação. A evidência empírica encontrada corrobora com a noção intuitiva de que estabilização acompanhada da adoção de regras de política reforça o próprio processo de estabilização, tendendo a torná-lo algo estável e duradouro. Assim, regras diferentes devem ter sido seguidas para o regime de câmbio fixo e o de metas. Independentemente disso, o ponto é que a autoridade monetária parece ter se pautado por uma conduta baseada em regras desde o começo da estabilização.

    fonte:
    ARAÚJO, Eurilton; DONHA, Talita. Discretion in Brazil’s Monetary Policy after the implementation of the Real Plan: a test based on the long run correlation between inflation and output. Revista de Economia Contemporânea, v. 15, n. 3, p. 375-405, 2011.

  26. Complementando o post, é válido lembrar que o debate entre regras e discricionariedade ganhou força devido aos mecanismos de transmissão – rigidez de preços, salários justapostos, entre outros – da política econômica e de choques em geral no nível de preços, abrindo espaço para a discussão de como deveria ser a atuação do Banco Central frente as variações nos níveis de preços.
    O quê se percebe na literatura, é que uma política monetária baseada em regras é melhor, sob regime de expectativas racionais, porque mantêm a inflação corrente igual a inflação esperada e o nível de desemprego igual ao desemprego natural. Além disso, a literatura mostra que a adoção de regras que possam ser incorporadas ao conjunto de informações dos agentes pode levar a política econômica ótima no sentido de maximizar a função objetivo social.
    Uma política discricionária tenderia a criar um viés inflacionário já que a promoção da surpresa inflacionária não é consistente no tempo porque os indivíduos possuem expectativas racionais e ajustam suas expectativas, resultando em taxa de desemprego igual a taxa natural e inflação acima da inflação ótima.
    A criação de regras resolve o problema da tendência de criação de surpresa inflacionária e gera credibilidade para o Banco Central, fazendo com que a velocidade dos ajustes seja mais rápida e que os danos sejam menos prejudiciais a economia.

    Fontes:

    Clique para acessar o regras-x-discricionariedade.pdf

    http://terracoeconomico.com.br/jeitinho-brasileiro-regras
    http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/1808

  27. Conforme mencionado pelo grupo e em alguns comentários, o debate de regras e discricionariedade na política monetária é antigo na literatura econômica, sendo que para tanto não existe na contrapartida um consenso ou afirmação que prove qual entre as duas abordagens é mais eficiente.

    É fato que a adoção de regras resolve o problema de inconsistência intemporal e reduz os possíveis erros cometidos por políticos – adoção de regras inibem o foco no curto prazo – porém, por vezes as regras acabam sendo rígidas e acabam por não prever contingências, enquanto que a adoção de políticas discricionárias, permite uma maior flexibilidade na gestão, com políticas que se adequam aos choques econômicos, mas por sua vez, geram maior incerteza e instabilidade pro mercado.

    Desta forma, concordo com o Lucas e Com o Arthur, sendo que a melhor opção é encontrar entre os meios e ferramentas dispostos, o desdobramento sob o qual as teorias possam ser utilizadas em conjunto, de forma a aliar as vantagens de ambas e reduzir seus pontos negativos, criando uma política monetária mais eficiente e concisa.
    Fonte:

    MISHKIN, Frederic. The Economics of Money, Banking and Financial Markets. 10th edition.

  28. Por um lado, se a autoridade seguir estritamente uma regra, a política monetária poderá estar engessada a possíveis choques que afetam a economia repentinamente. Por outro lado, caso o Banco Central opte por abdicar de uma regra e adotar discricionariedade total, corre-se o risco de aumentar a volatilidade do produto, das expectativas dos agentes e e de se ocorrer um problema de inconsistência dinâmica da política monetária.
    Assim a maior parte dos estudiosos apontam para uma combinação entre as duas coisas, ou seja, reconhecem que há vantagem e desvantagens para as duas formas de atuação.
    No texto consultado, o autor afirma que segundo Woodford (2003), as vantagens de um novo consenso das políticas monetárias são largamente dependentes do entendimento e previsibilidades dessas políticas pelo setor privado. Sob esse aspecto não há dúvida de que houve um aperfeiçoamento por parte dos Bancos Centrais na forma da condução das políticas monetárias e da necessidade de se comunicar de maneira clara com o público sobre suas ações. Neste sentido, discute-se sobre políticas monetárias para aumento do produto e redução do desemprego sem aumento de inflação.

    http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/2772/AdrianaBertoldiEconomia.pdf?sequence=1&isAllowed=y

    1. Como você disse, apesar dos muitos benefícios de se adotar uma regra para políticas econômicas, o policymaker não pode abandonar a discricionariedade. As regras são estabelecidas para determinados cenários econômicos e podem tornar-se menos eficazes quando nos deparamos com uma situação diferente (uma crise, por exemplo). Neste caso, a flexibilidade da discricionariedade permite ao policymaker utilizar medidas diferentes, mas que são mais eficazes em lidar com os problemas que a economia enfrenta. A política discricionária é particularmente recomendável quando existe muita incerteza na economia e se mostra mais eficiente quando o policymaker tem credibilidade. Portanto, a utilização de regras para reger as políticas econômicas em cenários “normais” eleva a eficácia da política discricionária quando nos deparamos com cenários “anormais”

      Fontes

      https://www.boundless.com/economics/textbooks/boundless-economics-textbook/current-topics-in-macroeconomics-30/questions-for-debate-123/arguments-for-and-against-discretionary-monetary-policy-485-12581/
      https://www.stlouisfed.org/publications/regional-economist/january-2003/rules-vs-discretion-the-wrong-choice-could-open-the-floodgates

  29. A partir da década de 1970, os policymakers passaram a atuar baseado em regras. As vantagens desse método é que a transparência e consistência que derivam da adoção de regras tornam as políticas econômicas mais previsíveis além de garantir credibilidade. Entretanto, é importante também ressaltar alguns pontos positivos da discricionariedade em comparação com as regras. As regras são determinadas em certos cenários e diminuem a flexibilidade das ações dos policymakers. Quando a economia se depara com circunstancias diferentes (crises, por exemplo), a discricionariedade permite respostas inovadoras à situações imprevistas. Portanto, discricionariedade pode servir melhor ao interesse público quando a economia se depara com maior incerteza, principalmente quando o policymaker possui credibilidade.

    FONTES:
    https://www.stlouisfed.org/publications/regional-economist/january-2003/rules-vs-discretion-the-wrong-choice-could-open-the-floodgates

    https://www.boundless.com/economics/textbooks/boundless-economics-textbook/current-topics-in-macroeconomics-30/questions-for-debate-123/arguments-for-and-against-discretionary-monetary-policy-485-12581/

  30. Na política econômica discricionária, os formuladores de política econômica são livres para avaliar os eventos conforme ocorrem, optando econômica que parecer mais apropriada para a ocasião (ajustamento ou flexibilidade plena das políticas. Já na política baseada em regras, os formuladores de política econômica anunciam com antecedência como a política reagirá a varias situações e se com, prometem a atuar de acordo com o que foi anunciado previamente (comprometimento ou rigidez das políticas).
    As regras podem ser “Regras Fixas”, na qual a política deve ser formulada conforme uma regra que independe do estado da economia. E, “Regras de Feedback”, a política deve ser formulada conforme o estado de um conjunto de variáveis econômicas de forma explícita e previamente acordada.
    O problema de Inconsistência Dinâmica surge quando o formulador de política econômica realiza um anúncio visando influenciar a expectativa dos agentes e depois, uma vez o anúncio internalizado pelos agentes, pratica um “desvio”, realizando diferente do que fora anunciado anteriormente. Em geral, o “desvio” gera um benefício de Curto Prazo ao formulador de Política Econômica, às custas de, no curto prazo, sofrer perda de credibilidade.
    Para exemplificar, suponha que o Banco Central anuncie uma política monetária consistente com uma taxa de inflação zero, Caso tal anúncio seja crível, é natural que a inflação esperada seja zero, e que a economia opere com uma taxa de desemprego exatamente igual a natural (U=Un), na ausência de choques.
    O Problema da inconsistência dinâmica surge quando os agentes (formadores de preços e de salários) internalizam tal anuncio em suas expectativas e tomam suas decisões assumindo que o anúncio será cumprido: uma vez internalizado, os indivíduos estão “amarrados” em suas decisões e nesta situação, dado que o custo marginal de inflação é baixo, o Banco Central pode sentir tentado a explorar o trade-off da curva de Phillips, expandindo a demanda agregada (via aumento da oferta monetária, por exemplo) de modo a diminuir o desemprego abaixo do nível natural às custas de um crescimento marginal da inflação.
    Assim, o problema da inconsistência dinâmica surge quando há um incentivo para um “player” a desviar da decisão previamente anunciada uma vez que o outro “player” já tenha tomado sua decisão.

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